segunda-feira, 26 de maio de 2008

Departamento de Controle do Espaço Aéreo nega a hipótese de OVNI e caso do ponto colorido começa a atrair fiéis.


A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) confirmaram na tarde de ontem que tiveram conhecimento de um suposto Objeto Voador Não-Identificado avistado no céu de diversas cidades do litoral catarinense e paranaense, na tarde/noite do domingo, dia 20 de abril, mas que o fenômeno pode não ter passado de refração solar. A confirmação vem depois de mais de um mês que moradores de 17 localidades da região procuraram os meios de comunicação para dizerem que naquela tarde viram se deslocar lentamente pelos céus um estranho ponto colorido. O que mais chamou a atenção foi que todas as testemunhas, apesar de viverem em localidades distantes, trouxeram uma descrição bastante parecida do fenômeno: um objeto multicolor e que não emitia som ou fumaça alguma, se deslocando do interior para o mar. Segundo os relatos, o ponto teria aparecido primeiro no município de Paranaguá, no litoral paranaense, após a missa dominical, e teria sumido definitivamente na costa, próximo ao município de São Francisco do Sul, litoral de Santa Catarina. Segundo os relatos da comunidade local, antes de sumir, o ponto colorido descreveu no céu o sinal de uma cruz.

A nota oficial do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) informou que “duas aeronaves da Marinha que faziam vôos de rotina na costa comunicaram imediatamente uma movimentação estranha até 26°14 de latitude e 48°38 de longitude, descrevendo um circuito helicoidal e finalmente o movimento de uma cruz” — especifica o documento, confirmando o relato popular. Mas na nota, o presidente da DECEA, Ademir Constantino, acrescenta que o departamento “não terminou ainda o processo de análise do registro”, mas que, “ao que tudo indica, trata-se de um fenômeno físico provocado pela refração da luz solar, posto que não houve registro material do deslocamento nos radares”.

Para o pesquisador do Departamento de Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Márcio de Alencar, um dos pioneiros no país na pesquisa com OVIS (Objetos Voadores Não-Identificados) a probabilidade de ter se tratado de um “disco voador” não pode ser descartada, e que a região apresenta elevados índices de aparições ufológicas. Ele discorda radicalmente que o colorido tenha sido um fenômeno físico semelhante à formação dos arco-iris (que não costumam se formar no veranico sulista), e ataca duramente o DECEA, dizendo que informações fundamentais têm sido escondidas, como a de que durante o curso do deslocamento, o objeto teria tentado estabelecer contato, para ser auxiliado no uso de um GPM. “Ora, arco-iris não opera GPM, tampouco se perde, nem pede ajuda ao DECEA” – alfineta o professor. E ainda problematiza mais: “Eu quero saber por que foi que o Corpo de Bombeiros e a Marinha ficaram uma semana ainda no local, patrulhando. O que buscavam?”. Segundo ele, está clara a intenção do DECEA de esconder que havia organismo vivo dentro daquele objeto. Na opinião do especialista, no entanto, tal organismo encontrava-se em estágio de desenvolvimento tecnológico inferior à espécie humana, que já maneja o GPM.

Ufanismos à parte, quem viu o ponto colorido cruzar o céu naquela tarde/noite de domingo assegura que em nada parecia com arco-íris, mas também não crê em disco voador. Em São Francisco do Sul, por onde teria desaparecido o objeto, os mais religiosos preferem acreditar que foi uma aparição, uma revelação de Nossa Senhora da Graça, padroeira da cidade. É o caso do pescador João Mesquita de Soares Lins, que naquele fim de tarde estava arrastando a sua rede com seus dois filhos. “Quando eu vi o colorido, eu e os meninos rezamos um salmo e pronto. Parecia um monte de balão junto... tinha nada de disco voador. Não sei se foi benção não, mas que a pescaria naquela manhã foi fartura, isso foi” — completou entusiasmado o pescador, lembrando a passagem bíblica em que o apóstolo João tem das mãos de Jesus a multiplicação dos peixes.

Mas o que mais tem chamado atenção nos últimos dias, segundo o pároco da Igreja Matriz da cidade, é que tem crescido vertiginosamente o número de fiéis que vão até ali não só ouvir relatos sobre o ponto colorido que ganhou visibilidade nacional, mas especialmente prestar uma reverência à paróquia que hospedara em seu crucifixo, no alto de sua torre, três dias depois da aparição do ponto, uma pomba branca, que ali teria descansado depois de voar por vinte horas ininterruptas, pelo céu da região. Segundo os moradores, a ave, muito incomum nessa época do ano, dera muitas voltas de um lado para o outro até pousar sobre a Matriz. “No bico da pomba tinha um pedaço amarelo dessas bexigas de encher, de criança brincar.” — testemunha a aposentada Regina dos Santos Neves. “Os fiéis trazem suas manifestações de fé, suas cruzes, vestem túnicas vermelhas e entoam cânticos de louvor.” – completa o pároco, visivelmente emocionado.

Depois de muitas fotografias de turistas e curiosos, a pomba teria partido na mesma direção em que desaparecera o ponto colorido, deixando cair pelo litoral da região inúmeros pedaços de bexigas coloridas.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Caso Raudinei dos Santos (artigo exclusivo para o jornal O Dia)


Há quase dois meses a opinião pública brasileira está chocada. No último dia 29 de março, o corpo do garoto Raudinei Diogo dos Santos, de apenas 4 anos, foi encontrado à margem do esgoto da Muribeca, no município de Jaboatão do Guararapes, em Pernambuco, depois de ter sido asfixiado dentro de casa com uma virola de pneu de caminhão. Há menos de um mês o Brasil inteiro se perguntava quem teria sido o autor (ou quem seriam os autores) de um crime tão covarde. Nas escolas, nos almoços de família, nas igrejas, em bares, nas conversas de bairro e halls de condomínios o povo debatia, opinava, apresentava teses, hipóteses, não se cansava de discutir a autoria e até as razões que levariam alguém a atentar tão brutalmente contra uma criança, pobre. A televisão cumpria o seu papel e trazia, dia a dia, as últimas notícias do caso: a última fala do promotor, os laudos da investigação criminalística, sessenta e duas testemunhas entre vizinhos, parentes, taxista; os contrapontos da defesa e até mesmo uma entrevista, em rede nacional, com os únicos a quem restou acusação: a doméstica Rosa Maria de Alencar, madrasta de Raudinei e o desempregado João Evangelista dos Santos, seu pai. Há mais de um mês, quando a hipótese de ter sido o casal autor do crime foi ventilada, a promotoria conseguiu a prisão preventiva de João e Rosa, que foram no entanto libertados oito dias depois por ordem do desembargador do Tribunal de Justiça do estado, mediante justificativa de que não havia até então provas suficientes para incriminá-los.


Depois de inúmeras visitas ao local, sobretudo devido à grave pressão que a imprensa brasileira exerceu pelo esclarecimento do crime e julgamento de seus culpados, os peritos do instituto de criminalística concluíram que não pode ter havido mais ninguém dentro daquele barraco, além do casal e seus cinco outros filhos pequenos que dormiam no chão, na hora que antecedeu o assassinato de Raudinei. Além disso, foram encontrados pingos de sangue no piso da carroça com a qual a família recolhe diariamente latas e garrafas plásticas pela cidade, e resquícios de borracha de pneu na blusa do pai.


Para o povo, depois disso, não restava mais dúvida. Mas a justiça parecia ainda querer ir além de provas materiais e, no último dia 27 de abril, fez mais uma reconstituição do crime, minuciosa, desta vez contando com um grande cordão de segurança em torno do barraco onde o menino foi assassinado e com o fechamento do espaço aéreo da Muribeca por 14 horas, em um raio de 3 km.
Mas o povo não quer mais saber quem foi — já sabe. E sua voz é a de Deus. O povo agora assiste aos noticiários porque quer saber é se Rosa Maria de Alencar e João Evangelista dos Santos vão ser condenados, ou se precisará ele mesmo, Deus, fazer a Justiça com as próprias pedras, à porta da família Santos. Por ali, populares se aglomeram dia e noite na tentativa de ver uma pequena fração do rosto da brutalidade, daqueles que foram capazes de matar tão selvagemmente uma criança, negra e inocente. O povo quer saber agora se isso será mais um daqueles episódios de pizza em que quase sempre terminam os inquéritos policiais no Brasil. Finalmente o povo cansou de viver no país da injustiça e da impunidade, e quer que Rosa e João parem de dizer todo o tempo que são inocentes; parem de chorar diante das câmeras, dissimuladamente, e confessem, com detalhes... como foi que... estrangularam a criança com uma virola de pneu... impediram que gritasse... arrastaram seu corpo pequenino desfalecido pelos fundos do barraco... e o laçaram no canal de esgoto.


Enquanto não estrear a seleção canarinha nas Olimpíadas de Pequim, a opinião pública brasileira, seus veículos de comunicação, o povo não vai sossegar, e vai cobrar das autoridades competentes, pelo assassinato covarde de Raudinei Diogo dos Santos, justiça.